Novos desafios para a mulher do século 21

Novos desafios para a mulher do culo 21
O “empoderamento feminino” é fato, tanto que quatro em cada dez famílias já são chefiadas por mulheres. Estão mais escolarizadas. Destacam-se no empreendedorismo. Conquistaram seu lugar nas universidades e nas empresas, que valorizam mais o jeito feminino de liderar. E vale lembrar que o nosso país é chefiado por uma presidenta, que colocou várias outras mulheres em cargos estratégicos para o desenvolvimento do Brasil.

Porém, a mulher do século 21 paga hoje um preço alto por sua revolução comportamental. Essa roda-viva de trabalhar sem descanso e de querer ser a melhor em seus vários papeis traz muitas alegrias e vitórias profissionais, mas também efeitos colaterais — como a falta de tempo, a falta de energia para o amor e o sexo, o afastamento afetivo de amigos e da família, a frustração por não conseguir dar conta de tudo tão bem quanto gostaria. Muitas estão mais felizes do que suas avós declaravam ser, mas riem e comemoram menos. Estão mais exigentes em relação ao parceiro amoroso e achando mais fácil lidar com a carreira, a ponto de não esconderem sua dificuldade em construir um relacionamento duradouro. Também estão adiando a maternidade até um ponto em que boa parte já não consegue mais, pelo menos naturalmente.

Seu maior desafio é o de fazer escolhas com mais tranqüilidade e satisfação, em vez de querer abraçar o mundo e sofrer de ansiedade, stress, fadiga. A mulher brasileira, ávida por independência financeira e sucesso na vida individual, procura somar. Vive a cultura do E, enquanto mulheres de outras culturas vivem a cultura do OU. Daí, as brasileira se sente mais sobrecarregada e reclamona. E a maior cobrança é dela própria, que se exige ser ótima profissional, ótima mãe, ótima filha, ótima amiga, ótima amante… Outro desafio é o de calibrar melhor seu tempo e sua energia, para ser possível estar inteira enquanto trabalha e também estar inteira nas horas que fica com o filho ou o marido ou os pais. Não é o que vem acontecendo. O mais comum é a presença física ao lado daqueles que ama, mas a ausência emocional.

E, olha que sintomático, nem em conto de fadas a mulher relaxa. Até a Disney está atualizando certos enredos para acompanhar a nova realidade das heroínas. Veja o caso de Rapunzel, a moça frágil de cabelo forte trancada numa torre à espera do homão valente e provedor para resgatá-la. Na animação Enrolados, ela dá de cara com um bandido incrivelmente atraente (mas ainda assim ban-di-do) e o chantageia a fim de conseguir a própria liberdade. Pára esse mundo que eu quero descer, diria uma amiga que ainda acredita em príncipes…

Verdade que a mulher precisou se esforçar em dobro e estudar o triplo para se impor no alto escalão dos negócios, ainda comandados por homens. Ninguém a convidou a entrar. Teve de chutar a porta dos patrões, gulosa do mesmo poder. Nas minhas pesquisas para lançar o livro Mulheres de Sucesso Querem Poder… Amar (Editora Gente), o que mais ouvi é que endurecemos. Para não sermos passadas para trás em cargos e salários, realmente adotamos um “avatar” durão. Só que estamos com dificuldade de fazer o corte. Precisamos ser tão assertivas diante de chefes, clientes e subordinados que entramos em casa e nem percebemos que chegamos.

Curioso pensar que, no passado, a mulher tinha dificuldade de sair de casa para conseguir trabalhar. Hoje ela está com dificuldade de voltar para casa a tempo de jantar com a família, de pegar o filho acordado, de namorar o marido… Vivemos um período de transição, em que todos precisam se acostumar com a nova realidade da mulher, além de ajudá-la a conciliar melhor seus vários papeis. Essa ajuda precisa vir do homem, que terá cada vez mais que dividir as tarefas domésticas e a criação dos filhos. Essa ajuda também precisará vir das empresas, dando maior flexibilidade no dia a dia de suas funcionárias, a fim de não perder talentos femininos.

Minha experiência de 27 anos em jornalismo feminino mostra que, a cada 24 horas diárias de mulher multifacetada, fazemos malabarismos dignos de um novo sobrenome: Du Soleil. Entretanto, muitas de nós são como uma Ferrari dirigida por uma garotinha. O mundo se relaciona com o carrão, enquanto a pessoa lá dentro anseia por ser vista, compreendida e amada. Quem se habilita?

         Claro, não vou generalizar. Também há aquelas mais habilidosas em conciliar amor com sua ambição profissional. Como conseguem? Tomando certos cuidados. Uma headhunter que entrevistei para o meu livro, por exemplo, confidenciou: “Estou no segundo casamento e, enquanto nos conhecíamos, eu ouvi: ‘Olha, não seu funcionário’. Aquilo me abriu os olhos para agir diferente, ou não ia rolar”. Que bom, a superprofissional ficou mais cuidadosa com essa relação amorosa, que deslanchou.

Dá até para desconfiar de que a situação que vivemos hoje seja fruto de uma geração que lutou por independência sem saber exatamente o que faria com tudo isso… Quantas de nós foram educadas ouvindo da mãe: “Tem que trabalhar, estudar, ganhar seu dinheiro, comprar o carro e a casa própria, conhecer o mundo e não depender de homem nenhum”? Com o passar dos anos, tanta coisa conquistada, várias pensam: o que nós ganhamos foi o direito de enlouquecer de tanto trabalhar e viver aos trancos e barrancos todo o resto nas raras horas livres?

Que fique bem claro: nenhuma mulher quer extinguir as conquistas herdadas. No entanto, toda escolha exige renúncias. Hoje, a balança das mulheres, assim como a dos homens, pende para o trabalho. E a mulher do século 21 deseja equilibrar com a vida pessoal e, principalmente, com a afetiva.

Aqui vai o meu conselho: não adianta ter todo o poder do universo se ninguém pergunta se você melhorou da dor de dente. Se não somos notadas, de que vale ter uma mente luminosa, um cartão de visitas invejável e um coração pulsando? Cabe a cada mulher ganhar consciência do que a fará feliz, e correr atrás. É a história do pêndulo, que foi a um extremo e agora recua em busca do equilíbrio. Se a mulher precisou um dia se masculinizar para abraçar um perfil empresarial, agora não deve sentir mais vergonha de resgatar a sua feminilidade e de querer ter vida pessoal com mais qualidade.

Joyce Moysés é jornalista, palestrante, escritora e ghost writer de altos executivos, tem especialização em Gestão de Negócios pelo Insper-SP. É autora do livro Mulheres de Sucesso Querem Poder… Amar (Editora Gente). Foi editora-chefe das revistas Claudia, Claudia Noivas, Claudia Bebê e Nova/Cosmopolitan. Coordenou Prêmio Claudia 2012 e colaborou com outros títulos, como Você S/A.  Hoje, empreende em sua empresa de conteúdo, a 1ª Edição Setorial, que produz conteúdo para empresas e estudos setoriais para o jornal Valor Econômico. Joyce é ainda colunista convidada do blog Empreendedorismo Rosa, colaboradora de comportamento da AT Revista, que circula no jornal A Tribuna de Santos. E parceira do projeto de resgate da autoestima da mulher com câncer de mama De Peito Aberto.