Uma coisa que me intriga ultimamente: Agora todo mundo tem que ter Propósito.  Uma espécie de missão que conduz a um caminho mágico onde todas as dúvidas existenciais dão espaço a uma vida plena e feliz. A sensação que tenho é que fomos todos arrebatados por um efeito manada, onde existe a obrigatoriedade de se perseguir uma estrela guia que conduz ao paraíso da existência.

Confesso que até tentei descobrir o meu propósito de vida, mas parece que alguém se esqueceu de jogar em mim o “pó de pirlim pim pim” que faz a grande revelação, e isso vinha me causando certa angústia.

Que me perdoe quem encontrou o seu propósito, já presenciei muita gente feliz com isso. Chego a pensar que sou a única ovelha negra com esta sensação…

O que me serve de consolo é que, do ponto de vista sistêmico, todas as ações do passado desencadeiam outras ações no presente e no futuro, e isso parece fazer mais sentido para mim; portanto, acredito que não é o futuro que me move, mas o presente que, inevitavelmente, será o passado, no futuro…

Apesar desta constatação metafísica, encontro ressonância em Fernando Pessoa que dizia recolher todas as pedras do caminho para um dia construir um castelo e, pessoalmente, creio que o castelo em si não era seu propósito de vida, senão experimentar intensamente sua existência.

Acho que me identifico mais com esse “Carpe Diem” do que com o pensamento mágico da missão de vida projetada no futuro. Bert Helinger disse que “o sábio aceita o mundo como ele é, sem medo e sem propósito” e que, o que impulsiona o caminhar é, antes de tudo, a alegria de descobrir.

Desta forma, sigo recolhendo pedras brutas, esculpindo algumas, lapidando outras, admirando todas. Fazendo alicerces, construindo pontes e, mesmo sem avistar a estrela guia do propósito, sigo aprendendo, fazendo amigos, ouvindo e contando histórias…

O que sei é que, quando a última pedra for colocada sobre minha lápide, terá valido a pena cada aprendizado desta jornada; por que sou uma eterna aprendiz que se apaixona pela alegria de cada nova descoberta.

Decidi por um fim a esta angústia, não vou mais procurar o tal do propósito!

E você? Acredita que é possível viver sem um propósito?